provocando visualidades
Durante o mestrado (2019-2022), fiz parte do grupo Prática como pesquisa: processos de produção da cena contemporânea, que possui como orientadoras as Profas. Dras. Ana Maria Rodriguez Costas (Ana Terra), Marisa Martins Lambert e Sílvia Maria Geraldi. Durante a necessidade de isolamento da Pandemia, o grupo tentou se manter ativo e criar novas dimensões para nossas presenças em estado de dança. Era desejo do grupo criar um site para arquivar suas memórias e torna-las acessíveis. Então, eu e Babi Fontana rascunhamos um exercício em que produziríamos visualidades coletivamente. Primeiro, pedíamos para que forrassem com folhas sulfites um pedaço da casa. Poderia ser uma superfície lisa como uma parede, o encontro de duas superfícies ou mais, a superfície de um móvel, ou o encontro dele com o chão.
Nesse momento o grupo se questionava sobre quais eram os fazeres que nos conectavam, quais lugares comuns queríamos habitar e compartilhar. Babi, que costuma mesmo colecionar vozes, coletou essas questões que nos orbitavam, e colocou-as para tocar. Sugerimos ao grupo que percebessem como seus corpos escutavam os áudios, como as perguntas mobilizavam seus gestos e os provocavam a registrar suas reações no papel que forrava um canto da casa. Como sua escrita e seu traço reagem aos áudios? Em seguida, os participantes foram convidados a descolar recortes em A4 para frente das câmeras, a fim de produzir um mosaico com nossos fragmentos.
O grupo escolheu seguir por outros caminhos, e os meus fragmentos restaram engavetados. Assim que defendi o mestrado (ago. 2022), senti o desejo urgente de redesenhar o site, de forma que suas visualidades refletissem meus desdobramentos. Eu faço isso sempre que preciso elaborar o que fiz durante determinada fase da vida, os materiais vão se acumulando e, para dar o próximo passo, eu preciso me lembrar das questões que vou levar para o próximo com a única certeza de que sigo caminhando. É possível ver como costumava ser a página inicial do meu site na galeria abaixo, e perceber que era um grande mapa em que traço, palavra e localidades coexistiam sem hierarquia.
montagens de um trajeto
Em junho de 2022, fui convidada pela minha orientadora do mestrado, Ana Terra, para contribuir graficamente com o material que estava editando para concorrer à livre-docência. Como eu não tinha a ferramenta da diagramação, propus que faria uma leitura atenta de seu memorial e dos comentários sobre os conjuntos de seus artigos, e que responderia com montagens criadas a partir das imagens que saltassem de sua trajetória, compondo micro dramaturgias, ou novos textos ao final de cada capítulo. Ana já vinha desenvolvendo, quase que de maneira intuitiva, apresentações de materiais didáticos com colagens, aproximando os corpos em movimentos dos bailarinos de elementos naturais. Então, minha intenção não era apenas a de ilustrar sua trajetória, mas dialogar com ela e oferecer novas materialidades e possibilidades para esse pensamento que se constrói por composição. Inspiradas nos cadernos de Katrien de Blauwer, abaixo estão as montagens criadas. Vale saber o contexto que representam no percurso de Ana Terra, e para isso, basta clicar sobre elas para ler as legendas completas:
poéticas do corpo em paisagens pandêmicas
No último ano do mestrado (2022), fui convidada para fazer parte da equipe do projeto de extensão Poéticas do corpo em paisagens pandêmicas: criar comunidades para reavivar afetos com a cidade, idealizado pela até então doutoranda Laila Padovan e coordenado pela nossa orientadora Ana Terra. A princípio, fui convidada para pensar na publicação de um material que registrasse o percurso total do projeto, mas uma das primeiras necessidades foi criar para ele uma identidade visual. Então, atuei como provocadora dessas visualidades, convocando o grupo para construir coletivamente nosso acervo de imagens autorais para divulgação.
Primeiro, eu levantei materiais que dizem sobre a demarcação das novas distâncias para evitar o contágio da Covid-19, como a fita amarela, e as grades de proibições que, se modificadas, também podem ser lidas como uma rede de conexões moventes. Explorei suas qualidades dentro de casa, para criar cartões com partituras que todo o grupo poderia reproduzir, até na hora de nos apresentarmos nas redes sociais, inventando autorretratos. No site do projeto é possível acessar a aba de acervo para explorar nossas referências visuais e teóricas dispostas no mapa de criação do Padlet e acompanhar em várias direções as gêneses de nossas ações.
Em junho de 2023, divulgamos o lançamento do Dossiê do Projeto de Extensão Poéticas do corpo em paisagens pandêmicas: criar comunidades para reavivar afetos com a cidade publicado no número 29-1 da Revista RUA, do Laboratório de Estudos Urbanos do Nudecri/Unicamp. Você pode clicar no link acima para acessar diretamente a publicação, ou ler mais detalhes sobre a mesma na aba ensaios deste site. Em todo caso, sugiro que comece a leitura pela apresentação que preparamos para o dossiê, e depois aproveite a leitura dos outros artigos que compõem a memória desse Projeto de Extensão.