flor de sal
Flor de sal é um projeto em aberto desde 2018 que pode gerar visualidades e poesia que preencheriam as memórias de um passado que não me contaram. Sinto um enorme desejo de escrever um romance (ou criar um solo performativo esfolado por sal) sobre a cidade de Praia Seca (RJ) e as relações que ela movimenta ou deixou de mover na minha vida. Seguem algumas das fotos-pesquisas de campo que deram origem ao título do processo e alguns primeiros esboços de versos.
Praia Seca está para Macondo de Cem anos de solidão, que não por acaso é meu livro favorito. É uma cidade-personagem onde mora a minha vó, cuja escassez e ar fresco e salino influencia o comportamento de todos que por lá passaram. É um lugar sem tempo. A cidade é também documento de vários encontros e desalinhos.
Depois de 27 anos passando minhas férias nesse lugar, descobri enfim que meu avô era dono dos galpões das salinas mais próximas do mar. Meu avô, desconhecido para mim, tinha uma casa na vila dos operários que meus pais frequentavam. Quando eu cheguei lá em janeiro de 2018, havia ausência. Tudo que encontrei foram caminhos abertos em direção ao mar.
Eu sempre achei que a relação com a minha avó era feito os dias em que a lagoa de Praia Seca fervia e carregava odores violentos de iodo. Depois que descobri tudo que não haviam me concedido, cheguei a Praia Seca assumindo, diante de tanto sal, que o mar que não pode ser visto da estrada, havia evaporado. Eu trouxe de lá um punhado de sal grosso, mas hoje todo sal me diz respeito. Tudo que não foi dito tomou forma de sal. Cada gota da água que secou, um mundo à parte. Cada gota, uma respiração.
Dizem que só se conhece alguém verdadeiramente se você divide um quilo de sal com ela.

























