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desmontagem cênica

Em disciplina orientada por Ana Cristina Colla e Raquel Sctotti Hirson (Lume Teatro), desvelo meu modo artístico de operar, passando por aquilo que ao perder, eu ganhei durante os anos em que estudei Arquitetura e Urbanismo na Unicamp até as escolhas da minha pesquisa de mestrado dentro do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena. A desmontagem Peça de Voltar foi apresentada no dia 11 de junho de 2019 no espaço do Lume.

Agradeço à Cris e Raquel por me darem chave de acesso a uma maneira de situar-me pública diante de minhas escolhas metodológicas; ao acolhimento criativo de Naia Pratta; e às narrativas de Tati Schunck pela sensibilidade de sua escuta e presença.


Na pesquisa no Vão do MASP, eu pedi a Isadora que me desse à mão, os nossos desenhos ficaram registrados como os nossos primeiros passos juntas. Quando eu reconheci a queda da desmontagem da Babi na minha, pedi para que voltasse ao prédio da arquitetura comigo porque não conseguiria voltar sozinha. Tinha acabado de ler A paixão segundo G.H de Clarice e precisava da mão dela para não me sentir solta no tamanho enorme que me descobri. A citação a seguir é para Babi Fontana, com carinho:


Dar a mão a alguém sempre foi o que eu esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer – nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior – muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho". (A paixão segundo G.H., Clarice Lispector).
 

peça de voltar

Pedi para que as colisões da amiga Babi Fontana me dessem a mão nesse percurso ao registrá-lo por suas próprias quedas, para que o calor entre a minha mão e a dela pudesse resistir como a minha mais íntima e mínima organização.

Como pertencer à arquitetura pela obrigatoriedade de edificar? Como conceber algo que deve ser para sempre se nem eu mesma me sustento de pé? Eu fui procurar no teatro como seria travar diálogo corpo-a-corpo com o espaço.

Tão logo,

me adiantei rumo à dança,

Foi quando eu comecei a cair por escolha.

De um território para outro, meu corpo desaba e se refaz. Desmorona, destila-se ao chão, e se refaz. É inevitável: a cada queda meu corpo somatiza sua desorganização. A primeira vez que eu morei sozinha em São Paulo foi num apartamento escuro que o sol não alcançava, e aos poucos, minha pele tornou-se inteira musgo, mofei tal como as paredes.

Outra vez,

passei diariamente a tirar uma partezinha do meu umbigo, depois de um mês, quando eu fui ver, eu tinha cavado tão fundo que hoje todo meu abdome teve que ser coberto de terra.

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